Seguimos em frente, o caminho era deserto passávamos por grandes propriedades,com paisagens intocáveis, calma e rural. As florestas de carvalho e pinhais deixavam um perfume no ar. Chegamos a uma aldeia de casas de pedras e grandes vigas, quase todas possuíam lareiras ou uma salamandra para as noites frias, típicos das casas das vilas portuguesas. Comecei a explorar, estava na aldeia Terreiro das Bruxas, um povoado no Distrito da Guarda, Portugal, onde a calma e paz de espírito imperam, olhei a minha volta, a grande maioria das casas tinham ramos de ervas secas, alfazema ou pimentas pendurado nas portas, nas janelas vasos de cerâmicas com flores, as cortinas rendadas brancas balançavam ao vento querendo fugir pela janela, dentro móveis antigos com um toque de simplicidade, tudo deixava transparecer a felicidade de viver ali, era primavera, o sol quente convidava a todos a permanecerem em suas casas. As ruas continuavam desertas, senti uma gostosa sensação de bem estar, leveza e liberdade, uma certa tranquilidade, dei a mão ao meu companheiro e andamos calados, podíamos sentir a força mágica e o magnetismo espiritual. Em alguns momentos explorava sozinha, senti uma forte atração quando passei por um casarão em ruínas, fui tocando as frias paredes de pedras, tentando escutar o que elas diziam dos antigos moradores, a cada toque imaginava se o amor morou ali, quantas histórias de paixões, tristezas, dores, o jardim estava em ruínas, uma roseira insistia de permanecer florindo, fechei os olhos e apenas suspirei fundo e me entreguei, era como se o aroma das rosas quisessem me tocar, me senti orvalhada, no corpo o arrepio do toque do beija-flor ao beijar a flor, a mesma sensação dos beijos demorados, estonteantes e delirantes do meu amor.
Escutei meu nome, voltei-me e vi meu companheiro sorrindo, ele percebeu como eu estava inebriada de amor. Fui ao seu encontro, beijei seus lábios de leve e disse sussurrando, “o amor morou ali! Pude senti-lo.”.
Continuamos a explorar a vila, encontramos uma via charmosa, dos murros caiam flores vermelhas em cachos destacando-se no branco das paredes, logo a frente avistamos uma casa antiga, do lado de fora vários tambores de leite de cobre e tachos, vasos de cerâmica com flores de diversas cores, na varanda descia do teto como se bailassem diversas bruxinhas sentadas em vassouras, bonecas feitas pelas mãos das mulheres da aldeia, uma tradição além da cestaria, da tecelagem e das lindas mantas de retalhos, sem contar os bordados, tudo feito em modos ancestrais, o barro ainda é usado para a confecção de presépios, louças ou objetos decorativos, e tudo isso está exposto para o visitante.
Me encantei, entramos, dentro havia algumas mesas de ferro bem trabalhadas, recebemos o cardápio, ali além da magia ofereciam as melhores iguarias de todo o país, como o arroz doce, rabanadas ou filhoses.
Optamos em ficar no recinto ajardinado, debaixo do enorme sobreiro, uma árvore da família do carvalho, uma das árvores mais predominante em Portugal, e é devido à cortiça que o sobreiro tem sido cultivado desde tempos remotos. Em muitas partes de Portugal a cortiça é uma forte economia local, usado na fabricação de vários artigos, tudo em cortiça e o mais interessante é que a extração da cortiça não é prejudicial à árvore, uma vez que esta volta a produzir nova camada de casca a cada nove anos, período após o qual é submetida a novo descortiçamento, explicação feita pelo meu querido companheiro. Eu escutava como uma menina que atenta quer aprender de tudo… Enquanto aguardávamos o nosso pedido ser atendido, peguei suas mãos, olhei em seus olhos, ele sorria, estava feliz, e disse-lhe: Te amo, meu querido, estou encantada com este presente, a viagem esta sendo maravilhosa e você é um incrível companheiro, aventureiro e muito atencioso, explica detalhes e história de tudo, percebo o quanto você ama o seu país, me orgulho de você e quero lhe dizer que estou muito feliz. Neste momento nossos lábios se tocaram, mas fomos interrompidos pelo garçom.
Ficamos ali conversando, planejando a rota, apenas sabíamos onde queríamos chegar, mas a rota era uma aventura, procurávamos sempre as estradas alternativas, para conhecer o verdadeiro cotidiano dos portugueses. Tirei algumas fotos, eu sempre fazia gracinhas entre uma foto e outra como ele dizia.
Nos despedimos depois de comprar um gostoso queijo da região e algumas compotas e como não poderia ser diferente desde que chegamos a Portugal compramos as deliciosas cerejas, tão farta nesta época do ano.
Caminhamos sentindo o calor subindo das pedras que calçavam as ruas, seguimos ate a praça principal e embarcamos para a nossa aventura, com destino a Espanha. Ao entrar no carro, pensei em tudo que vi ali naquela aldeia com uma energia tão boa, como se estivesse em casa, gostei de recordar o cheiro da lenha queimando nos fogões, gostei do sabor das frutas frescas, da sombra e do cheiro que vinha da floresta, gostei de tocar as pedras e ouvir suas histórias, enquanto isso, peguei uma cereja e comecei a lustrar sua casca, admirando-a, como é linda, sedutora. Meu amor perguntou o que eu estava fazendo e respondi: Fazendo um encanto de amor verdadeiro! Para você. E coloquei a cereja em sua boca suavemente e rindo falei: Afinal toda mulher tem uma bruxinha dentro de si… e rindo, partimos.
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