quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sou tanto amor, menos quando...

Sou tanto amor, menos quando...

Ai! Manuel, se seu “céu é plúmbeo e a lua é baça”, 
a minha quando paira esta nua e cheia de graça;
No meu céu magenta ela é tão somente inspiração
para os versos românticos de uma paixão que ficou,
O que ficou é mais do que pode imaginar, é o sonhar,
o sorrir, é o meu crescer,
Posso te buscar e te fazer feliz;
Posso acreditar que ama quem não te ama como eu
amo quem não me ama, 
Um desencontro depois dos encontros,
Ai! Vinicius, “se o amor é querer estar perto,
se longe; e mais perto, se perto”;
O meu amor é aperto, se longe. 
Como posso ter essência se não me beijas meu beija flor, 
como posso me sentir orvalhada se na noite estou trancada.
Ai! Fernando se “amar é a eterna inocência
e a única inocência é não pensar”;
Prefiro pensar com a inocência de te amar.
Ai! Pablo “se a palavra é a asa do silencio” 
escrevo no barulho dos meus sentimentos.
o silencio do meu amor.
                                                   Maria C Setragni



terça-feira, 29 de setembro de 2015

EM ÉVORA,, ERA UMA VEZ....















 Chegamos a Évora, do Alto Alentejo esta é uma das cidades portuguesa mais antigas, sua história recua mais de dois milênios, passamos pela Porta de Avis a mais antiga entrada das muralhas medievais e diz a lenda que Évora teria sido sede do general romano Sertório, que junto com os lusitanos teria enfrentado o poder de Roma. E aqui estamos, para explorar e sentir de perto tudo que Évora tem para oferecer. Não podia ser diferente, o local escolhido para visitar entre todos foi o Templo de Diana, um templo de estilo coríntio, construído no início do século I, d.C., dizem que este monumento é uma prova da forte presença dos deuses e deusas pagãos. Imaginem que aqui a mais famosa bruxa pagã viveu, a bruxa de Évora como era conhecida. Isso tudo mexeu comigo e começamos a percorrer a cidade, uma cidade medieval bem preservada que onde podemos encontrar muralhas, vários palácios e este fantástico templo romano. Chegamos, parei, para contemplar, e me perguntei: O que se passou por onde estou agora andando? Quantas dores, vidas, conquistas, vitórias. Olhei as escadas em ruínas e me vi subindo cada uma lentamente, usando um vestido com um tecido leve, claro, como se quisesse deixar cada raio de sol passar por ele tocando de leve minha pele, meus passos firmes me levaram ao centro do templo e diante do astro maior, o sol, fiz meu juramento:

"Deste dia em diante nenhum homem me prenderá, estarei com ele por ser livre e por amor, deste dia em diante juro que nunca mais serei conhecida pelo nome de qualquer homem, somente terei o nome de outro após o do meu pai se assim eu quiser, só devo fidelidade as leis divinas e ao meus sentimentos, o amor, e todos os que amo que apelarem a mim saberão que não será em vão. Juro ser amor e feliz e deixar transparecer esse sentimento por onde eu for, e que a paz esteja sempre comigo!”

De repente ouvi uma voz dizendo: Sorria! Olha o passarinho! (risos) Voltei! Era meu amor tirando uma foto, dei uma gargalhada, pensei, como o pensamento voa e voa como a cantiga que aprendi quando criança. “A minha casa fica lá de traz do mundo; onde eu vou em um segundo quando começo a cantar; o pensamento parece uma coisa à toa mas como é que a gente voa quando começa a pensar…” (risos) Que gostoso é viajar no tempo, recordar, fantasiar, doces momentos, doces lembranças. Quando ele se aproximou, perguntou: Gostou? Respondi: Se gostei? estava com a Deusa Diana. Ele rindo me pegou pelas mãos e disse: Você é mesmo uma menina sonhadora, que tanto adoro!


Continuamos, chegamos em uma rua e resolvemos almoçar na Albergaria do Calvário, fica dentro das muralhas, um lindo casarão e serviam deliciosos sanduíches, comemos acompanhado do vinho alentejano. Permanecemos um tempo ali apreciando as instalações confortáveis, sentimo-nos muito acolhidos e bem vindos. O sol estava quente, podíamos ver turistas, grupos de todos os lugares e suas máquinas fotográficas. Seguimos para Igreja de São Francisco, na Praça 1º de Maio., tínhamos um convite "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos", (risos) era uma capela construída no século XVII por iniciativa de três monges com a intenção de transmitir a mensagem da transitoriedade da vida, nas suas paredes e os oito pilares tudo decorados com ossos e crânios, passei pela porta arrepiada, a frase acima esta gravada na entrada, entramos, dentro havia este poema sobre as caveiras.

“As caveiras descarnadas;


São a minha companhia,


Trago-as de noite e de dia


Na memória retratadas


Muitas foram respeitadas


No mundo por seus talentos,


E outros vãos ornamentos,


Que serviram à vaidade,


E talvez…na eternidade


Sejam causa de seus tormentos.


A sensação não foi agradável, acreditem, sai correndo, fiquei na praça comendo uma deliciosa paçoca. Enquanto esperava fiquei observando os passantes, o jeito de vestir, os costumes, pequei minha máquina e fui fotografando o cotidiano, estava ansiosa para seguirmos. Enfim, ele saiu da capela, ria, achando engraçado por eu ter saído correndo de lá como uma menina assustada. Seguimos rindo, e comentando sobre a capela. Perguntamos a um comerciante como teríamos que fazer para chegar a praça da Fonte das Portas de Moura, o senhor indicou e caminhamos até a praça, ela tinha um certo encanto sem falar do belo monumento em mármore, construído no séc XVI, chamava a atenção pela graciosidade da estrutura com uma gigantesca esfera equilibrada sobre a base, curtimos um pouco e continuamos.
Estava cansada, mas a visita ao Palácio de Dom Manuel já estava na programação. Ufa! Vamos? Olhamos um para o outro, estávamos cansados a tarde chegava com uma brisa mais fresca, voltamos para o carro, tínhamos que buscar um alojamento. No carro uma música suave, ele buscou minha mão, e apenas nos olhamos, tudo se dizia apenas com o olhar. Relaxei um pouco, olhei as paisagens da região, com montes e vales cobertos de grandes olivais e vinhas, tão repousantes e harmoniosos. O clima, agradável, seco e quente, trazia também o cheiro de queimado, grandes incêndios acontecem e são muito perigosos, encontramos grandes áreas sendo destruídas e por mais que lutem é muito difícil controlar com o vento mudando a cada instante. Continuamos a viagem ate encontrar nosso alojamento, uma casa antiga que atendia com serviço de hospedagem.
Foi uma noite para descansar e recuperar as forças. E disse baixinho cansada, boa noite amor, e ele me abraçou respondendo: Boa noite querida.



sábado, 26 de setembro de 2015

TERREIRO DAS BRUXAS, MONTEI NA VASSOURA E...


  

Seguimos em frente, o caminho era deserto passávamos por grandes propriedades,com paisagens intocáveis, calma e rural. As florestas de carvalho e pinhais deixavam um perfume no ar. Chegamos a uma aldeia de casas de pedras e grandes vigas, quase todas possuíam lareiras ou uma salamandra para as noites frias, típicos das casas das vilas portuguesas. Comecei a explorar, estava na aldeia Terreiro das Bruxas, um povoado no Distrito da Guarda, Portugal, onde a calma e paz de espírito imperam, olhei a minha volta, a grande maioria das casas tinham ramos de ervas secas, alfazema ou pimentas pendurado nas portas, nas janelas vasos de cerâmicas com flores, as cortinas rendadas brancas balançavam ao vento querendo fugir pela janela, dentro móveis antigos com um toque de simplicidade, tudo deixava transparecer a felicidade de viver ali, era primavera, o sol quente convidava a todos a permanecerem em suas casas. As ruas continuavam desertas, senti uma gostosa sensação de bem estar, leveza e liberdade, uma certa tranquilidade, dei a mão ao meu companheiro e andamos calados, podíamos sentir a força mágica e o magnetismo espiritual. Em alguns momentos explorava sozinha, senti uma forte atração quando passei por um casarão em ruínas, fui tocando as frias paredes de pedras, tentando escutar o que elas diziam dos antigos moradores, a cada toque imaginava se o amor morou ali, quantas histórias de paixões, tristezas, dores, o jardim estava em ruínas, uma roseira insistia de permanecer florindo, fechei os olhos e apenas suspirei fundo e me entreguei, era como se o aroma das rosas quisessem me tocar, me senti orvalhada, no corpo o arrepio do toque do beija-flor ao beijar a flor, a mesma sensação dos beijos demorados, estonteantes e delirantes do meu amor.


Escutei meu nome, voltei-me e vi meu companheiro sorrindo, ele percebeu como eu estava inebriada de amor. Fui ao seu encontro, beijei seus lábios de leve e disse sussurrando, “o amor morou ali! Pude senti-lo.”.
Continuamos a explorar a vila, encontramos uma via charmosa, dos murros caiam flores vermelhas em cachos destacando-se no branco das paredes, logo a frente avistamos uma casa antiga, do lado de fora vários tambores de leite de cobre e tachos, vasos de cerâmica com flores de diversas cores, na varanda descia do teto como se bailassem diversas bruxinhas sentadas em vassouras, bonecas feitas pelas mãos das mulheres da aldeia, uma tradição além da cestaria, da tecelagem e das lindas mantas de retalhos, sem contar os bordados, tudo feito em modos ancestrais, o barro ainda é usado para a confecção de presépios, louças ou objetos decorativos, e tudo isso está exposto para o visitante.
Me encantei, entramos, dentro havia algumas mesas de ferro bem trabalhadas, recebemos o cardápio, ali além da magia ofereciam as melhores iguarias de todo o país, como o arroz doce, rabanadas ou filhoses.



Optamos em ficar no recinto ajardinado, debaixo do enorme sobreiro, uma árvore da família do carvalho, uma das árvores mais predominante em Portugal, e é devido à cortiça que o sobreiro tem sido cultivado desde tempos remotos. Em muitas partes de Portugal a cortiça é uma forte economia local, usado na fabricação de vários artigos, tudo em cortiça e o mais interessante é que a extração da cortiça não é prejudicial à árvore, uma vez que esta volta a produzir nova camada de casca a cada nove anos, período após o qual é submetida a novo descortiçamento, explicação feita pelo meu querido companheiro. Eu escutava como uma menina que atenta quer aprender de tudo… Enquanto aguardávamos o nosso pedido ser atendido, peguei suas mãos, olhei em seus olhos, ele sorria, estava feliz, e disse-lhe: Te amo, meu querido, estou encantada com este presente, a viagem esta sendo maravilhosa e você é um incrível companheiro, aventureiro e muito atencioso, explica detalhes e história de tudo, percebo o quanto você ama o seu país, me orgulho de você e quero lhe dizer que estou muito feliz. Neste momento nossos lábios se tocaram, mas fomos interrompidos pelo garçom.
Ficamos ali conversando, planejando a rota, apenas sabíamos onde queríamos chegar, mas a rota era uma aventura, procurávamos sempre as estradas alternativas, para conhecer o verdadeiro cotidiano dos portugueses. Tirei algumas fotos, eu sempre fazia gracinhas entre uma foto e outra como ele dizia.
Nos despedimos depois de comprar um gostoso queijo da região e algumas compotas e como não poderia ser diferente desde que chegamos a Portugal compramos as deliciosas cerejas, tão farta nesta época do ano.

Caminhamos sentindo o calor subindo das pedras que calçavam as ruas, seguimos ate a praça principal e embarcamos para a nossa aventura, com destino a Espanha. Ao entrar no carro, pensei em tudo que vi ali naquela aldeia com uma energia tão boa, como se estivesse em casa, gostei de recordar o cheiro da lenha queimando nos fogões, gostei do sabor das frutas frescas, da sombra e do cheiro que vinha da floresta, gostei de tocar as pedras e ouvir suas histórias, enquanto isso, peguei uma cereja e comecei a lustrar sua casca, admirando-a, como é linda, sedutora. Meu amor perguntou o que eu estava fazendo e respondi: Fazendo um encanto de amor verdadeiro! Para você. E coloquei a cereja em sua boca suavemente e rindo falei: Afinal toda mulher tem uma bruxinha dentro de si… e rindo, partimos.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

CHEGANDO EM SORTELHA, UM ENCONTRO INESPERADO: FERIDA DE AMOR...
(O início…)
Percorrendo algumas vilas de Portugal chegamos a uma aldeia  situada no alto de um monte elevado chamada Sortelha, linda aldeia ornada com penedos e barrocos, um bar estava aberto e paramos para um café, um típico senhor com camisa aberta no peito e um avental bastante usado veio nos atender e ao mesmo tempo ao perceber que éramos turista nos explicou sobre as casas construídas com pedras para ficarem expostas ao sol e que eram chamadas de "lagartixos". Falava entusiasmado sobre os costumes da região, as crenças e a economia, enquanto ouvia com atenção degustava o bolo de milho e o café com leite. Saímos dali e começamos a percorrer as ruas e vielas tipicamente medievais, a aldeia era fechada por um círculo de muralhas, tendo em seu interior um lindo castelo do século XIII. Do alto, além das muralhas, avistamos as grandes áreas dedicadas a agricultura e a pastorícia, atividades que remonta a tempos imemoriais, como explicou o senhor do bar e doçaria e garanto, é lindo percorrer as encostas e vales observando as cabradas e os rebanhos de ovelhas guiados placidamente por pastores e cães. Cenas que geralmente vemos em filmes de época. 

Seguimos as muralhas, até ao pelourinho, sentei para descansar, enquanto me refrescava, aproveitei para ler um pouco sobre o as festividades religiosas e a comemoração em honra de Santo Antão, o santo patrono dos animais,fama que adquiriu por ser exímio na arte de pastorar, cristão fervoroso doou todos seus bens e foi viver no deserto, uma historia de vida parecida com a vida de São Francisco, a ele é pedida bênção para os animais e para as colheitas, com isso pude perceber a arreigada religiosidade desta gente tão acolhedora.

 Partimos, no caminho encontramos um recanto cortado por um riacho barulhento mas que transmitia uma paz inexplicável, as grandes árvores e o verde campo convidava a caminhar um pouco e assim fizemos. O local era bastante frequentado por visitantes, era primavera, o ar abafado e quente da época convida ao banho naquelas águas geladas, caminhei um pouco sozinha, não sei explicar, mas percebia um olhar me acompanhando, virei-me e vi uma senhora distinta, trajava um saia abaixo do joelho, uma blusa de tecido leve, mas comportada, fechada com pequenos botões de perolas, segurava uma bolsa nos braços e me olhava como se admirasse de me ver tão feliz e eu realmente assim me sentia. Continuei a brincar com as pedras no caminho, era um momento meu, apanhei uma pedra achatada joguei-a no espelho d'água e ao perceber as ondinhas se formando ri lembrando do meu pai ensinando em um açude próximo da nossa casa, eu e meus irmãos, competindo para ver quem fazia mais ondas e jogava mais distante. Olhei novamente para a senhora e percebi que ainda mantinha seus olhos voltados pra mim, fiquei um pouco sem jeito, comecei a fazer o caminho de volta, e ao me aproximar da beirada do lago para pular o pequeno córrego, tive ajuda, mas ao mesmo tempo percebi que ela estava perto também pronta para me auxiliar, achei estranho porém não falei nada apenas agradeci com um olhar, foi então quando ela se aproximou e perguntou: Você é brasileira? Respondi que sim! Neste momento estávamos afastada e ela disse: Percebi, você deixa transparecer uma alegria que é contagiante e muito espontânea, você já foi a Fátima? Respondi que iríamos conhecer, então ela me abraçou chorando e me pediu: Reze por mim, prometa! Reze por mim, estou sofrendo muito, meu marido se separou de mim e meus filhos não me aceitam, errei e estou pagando por isso.


Eu estava atordoada, não esperava essa reação, as mulheres portuguesas são muito discretas, falam pouco e não são de conversar muito, eu não sabia o que dizer, apenas tomei suas mãos entre as minhas e lhe disse: Procure-o, diga que o ama, diga aos seus filhos e deixe o tempo curar a ferida. Ela então com os olhos cheios de lágrimas disse acrescentando, que já havia dito mas o orgulho e o ódio é maior, não deixando o perdão acontecer. Em seguida me perguntou se no Brasil rezo na igreja de Nossa Senhora de Fátima, eu disse que conhecia e novamente ela me pediu preces, dizendo que sua dor era muito grande, os minutos que passei ao lado dela me fez refletir muito sobre casamento, relacionamento, amor, filhos, família, tudo numa fração de segundo, me fazendo lembrar da frase de Drummond, "Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais resgata..." este foi um momento assim... então,  abracei-a e fiz uma oração, rogando a Deus para lhe dar forças nesta jornada, tentei passar pra ela tudo que eu podia de energia, de amor, acreditando que isso era possível, depois da oração me afastei segurando apenas suas mãos e lhe disse: Siga em paz, vou orar por você e acredite que você é capaz, acredite que você vai ser feliz, aguarde com fé e siga seu caminho e principalmente confie no amor! 

Olhei em direção ao carro e percebi que já estava sendo esperada e me despedi, olhando-a nos olhos e baixinho lhe disse: Fique em paz…. Despedi-me e me afastei.
Entrei no carro calada, coloquei uma música suave, começamos a andar, olhei pra fora e observando aqueles campos pensei em tudo que aconteceu ali com aquela mulher no lago…. Então perguntei: Você também viu uma mulher conversando comigo? A resposta foi, sim! Respirei aliviada, então aconteceu realmente, não era imaginação ou uma visão, ela realmente existia, então a cada vila, a cada aldeia, entrava nas igrejas e rezava por ela… Por aquela mulher ferida pelo amor....